Os jornais de hoje ( Público e i) dão notícia de que "futuros magistrados" foram apanhados em copianço e acabaram por ter 10 valores.
No desenvolvimento dessa notícia conta-se que dos 137 formandos que frequentam o CEJ, " há indícios de que a maioria" , segundo o Público, copiou e a direcção do CEJ decidiu atribuir nota dez a todos os futuros magistrados. O jornal i, mais específico, noticia que "todos os alunos que foram apanhados em copianço" passaram como nota dez.
Obviamente que uma notícia destas está errada. Mas não é só isso que releva neste modo de noticiar e relatar factos. Desde logo faltam factos, referências, explicações contextualizadoras. Coisas tão simples como as de saber quando se fizeram os testes, como se integram na actual orgânica do CEJ e na programação do mesmo, que significado têm no conjunto das provas de avaliação, e como é possível ocorrer uma situação destas num teste "de cruzes" ( segundo o Público).
O jornalismo caseiro, por vezes, deixa muito a desejar para quem quiser saber como é que as coisas se passaram. Quem, o quê, como, quando, onde e porquê, continua a ser o guião básico destas coisas. No entanto, parece que o essencial é encontrar o escândalo presumido que essas perguntas sempre encerram. E descobrindo esse graal está feita a notícia com chamada garantida para a primeira página. O moralismo subjacente é apenas o molho na notícia, o seu leit-motiv. Mas escrever, como o faz o i, que "o castigo dos cábulas foi decidido pela direcção do CEJ" é um atout. Um chouchou. Um laivo de "new journalism", de novidade estilística que enternece. O resto dos factos que se lixe.
Pela leitura dos jornais perguntei a mim mesmo se os testes seriam "intermédios", integrados na própria formação ou se integrariam os de selecção inicial. Como este ano não houve curso nem testes, devo concluir que são "intermédios". Mas não fico a saber isso pelos jornais.
Por outro lado fico a saber que o fenómeno acerca dos indícios de copianço ( Público) ou o da verificação efectiva do copianço (i) ocorreu num teste de "Investigação Criminal e Gestão do Inquérito", o que se torna ainda mais curioso...porque foi precisamente na correcção deste teste que os correctores detectaram os tais indícios da prática do delito. Porém, como não souberam comprovar, para além dos indícios, a prática do facto, eventualmente por carência de meios de investigação ou até mesmo de deficiências na gestão do inquérito sumário para averiguação do facto, despacharam o assunto de modo ainda mais sumário: 10 em comportamento a todos os alunos. Exemplar.
Claro que estes factos são pão para a boca do faminto jornalismo nacional. "Copianço generalizado no CEJ", num teste qualquer, por futuros magistrados é coisa imperdoável! O bastonário Marinho já boquejou a propósito da indignidade de tal gente poder vir a ser magistrado. Bacteriologicamente não servem, como está bom de ver por todos os que alguma vez copiaram na escola ou na faculdade. Até para serem jornalistas...
O jornalismo caseiro em assuntos destes nem pensa duas vezes: "copianço" escolar, como é bom de ver, é indício de carácter desajustado à magistratura ou seja do que for, mesmo jornalismo. Quem copia num teste de CEJ nunca poderá julgar, porque o seu carácter fica ali arrasado. Quem copia num teste escolar, nunca poderá ser jornalista porque se pretende um exemplo de rigor, competência informativa e insenção pessoal.
O jornalismo caseiro anda mal, claro que anda. Mas estes pequenos faits-divers ajudam a distrair o pagode. E um escândalo é um escândalo, seja ele onde for. Mesmo na sala de redacção de um jornal, porque estou certíssimo que todos os dias se passam escândalos nas redacções de jornais que não chegam ao conhecimento público. Por exemplo, no modo como se adquire conhecimento de certas notícias...
Mas esses escândalos são pura e simplesmente subtraídos ao conhecimento público o que confere aos seus autores o sentimento de impunidade mais completo e ao mesmo tempo a noção de que julgar os outros ( os jornalistas julgam factos e intenções) , de modo facilitado e moralizador, sem pensar duas vezes no efeito, é fácil, barato e devia dar milhões. Mas não dá, porque os jornais estão quase todos falidos.
PS. Por aqui esclarece-se um pouco mais: Manuel Soares sublinhou também que se tratou um teste de cruzes (teste americano) numa sala em que os auditores trocaram impressões antes de responder, pois sentiram-se à vontade para isso, sem que "ninguém lhes tivesse advertido para não o fazer".
Parece-me que este fait-divers está a assumir proporções parecidas às do video escolar. Através de um simples acontecimento corriqueiro que denota anormalidade nos comportamentos sociais pretensamente vigentes pretende-se erigir o assunto como modelo de exemplo.
O CEJ terá eventualmente alguns aspectos criticáveis. Um deles será o de não dar resposta satisfatória ao recrutamento de magistrados que evite a selecção de indivíduos que não deveriam integrar a profissão.
Mas o problema não parece ter solução fácil. Analisar e avaliar o carácter de alguém é função de um julgador num tribunal e para tanto carece de elementos que só outras entidades lhe fornecem: assistentes sociais, psicólogos etc etc. e neste etc incluem-se as testemunhas.
Mas o CEJ não é um tribunal e até há pouco tempo a escolha do "perfil" do magistrado dispensava estas consultas de especialistas. Aliás, nem sequer eram aconselháveis, segundo alguns ( Laborinho Lúcio por exemplo).
Portanto, o problema surge em pleno ambiente socialista republicano e laico em que a ética se confunde com a lei...
Copiar em testes não é ético. Logo não serve para magistrado quem copia...mas nem se procura saber como foi o tal copianço e parte-se do pressuposto que o foi como normalmente é: cada aluno estar adstrito a elaboração de um teste, individual, sem recurso a meios de estudo ou outros e sem discussão prévia ou em grupo.
Parece que não foi assim que as coisas se passaram, mas para o jornalismo caseiro da Lusa tanto faz: é tudo igual ao litro desde que cheire a escândalo ou que se possam acrescentar aos factos os pózinhos de escândalo sem se tornar escandaloso o método como o fazem.
PS. às 23:45, e segundo o Económico:
Além desta medida, foi ainda proposto a realização uma averiguação interna e a suspensão dos chamados "testes americanos" (de escolha múltipla) naquela escola, adiantou Bravo Serra ao jornal Público."
Os "powers that be" na magistratura agiram rápido e bem, perante as circunstâncias. Agiram politicamente, se assim se pode dizer porque aceitaram os factos não como eles são mas como eles foram contados pelos media. Atalharam e talvez seja assim que se deve fazer, perante o diletantismo do CEJ nesta matéria. A ASJP precipitou-se ao defender a decisão da directora do CEJ.
Não obstante tudo isso, o jornalismo caseiro mais uma vez sai incólume. Não se sabe como foi veiculada esta não-notícia que rapidamente se transformou num mega-escândalo, com intervenção imediata do bastonário da Ordem dos Advogados em modo muito suspeito. Continua sem se saber que tipo de teste era este com as famigeradas cruzinhas copiadas em massa. Continua sem se saber como é feita a selecção de magistrados durante a frequência do curso e se este método de testar conhecimentos é normal e corrente e qual o valor relativo do mesmo.
Continua tudo em aberto no esclarecimento e tudo ficará por esclarecer como é costume no jornalismo caseiro. Amanhã, o Jornal de Notícias já alinhou outro escândalo de primeira página porque o amigo Joaquim anda a perder muito dinheiro com o jornalismo desportivo que aí se praticava. E pelos vistos continua a praticar, agora imitando o Correio da Manhã...
PS. às 23:45, e segundo o Económico:
"Os magistrados que foram apanhados a copiar vão ter de repetir o exame do Centro de Estudos Judiciários (CEJ).
Esta foi a proposta apresentada pelo vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura (CSM), Bravo Serra, aos directores do CEJ durante o encontro desta tarde.Além desta medida, foi ainda proposto a realização uma averiguação interna e a suspensão dos chamados "testes americanos" (de escolha múltipla) naquela escola, adiantou Bravo Serra ao jornal Público."
Os "powers that be" na magistratura agiram rápido e bem, perante as circunstâncias. Agiram politicamente, se assim se pode dizer porque aceitaram os factos não como eles são mas como eles foram contados pelos media. Atalharam e talvez seja assim que se deve fazer, perante o diletantismo do CEJ nesta matéria. A ASJP precipitou-se ao defender a decisão da directora do CEJ.
Não obstante tudo isso, o jornalismo caseiro mais uma vez sai incólume. Não se sabe como foi veiculada esta não-notícia que rapidamente se transformou num mega-escândalo, com intervenção imediata do bastonário da Ordem dos Advogados em modo muito suspeito. Continua sem se saber que tipo de teste era este com as famigeradas cruzinhas copiadas em massa. Continua sem se saber como é feita a selecção de magistrados durante a frequência do curso e se este método de testar conhecimentos é normal e corrente e qual o valor relativo do mesmo.
Continua tudo em aberto no esclarecimento e tudo ficará por esclarecer como é costume no jornalismo caseiro. Amanhã, o Jornal de Notícias já alinhou outro escândalo de primeira página porque o amigo Joaquim anda a perder muito dinheiro com o jornalismo desportivo que aí se praticava. E pelos vistos continua a praticar, agora imitando o Correio da Manhã...