Ora então, aqui fica o gramático mais conhecido:
C. Cunha - Lindley Cintra, Nova gramática do português, Lisboa, Sá da Costa, 1984, p. 645: «os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa; não podem, assim, ser separados por vírgula. Esta a razão por que não é admissível o uso de vírgula entre uma oração subordinada substantiva e a sua principal».
E agora, alguns exemplos avulsos, com garantia de que as vírgulas, estão lá, nos textos originais:
"Este ano, veraneei também por velhos almanaques, amarelados recortes de jornais, receituários de culinária proto-histórica, utilidades e futilidades." - Alexandre O´Neill, A palha do rocinante- a vida em hcesar, Flama, 6.9.1974. In Coração Acordeão, edição de O Independente, 2004.
"Uma vez, eu disse, em conversa com o meu amigo Danilo, a palavra RATO. Danilo, que estava a desmontar, aplicadamente, uma cabeça de pescada, largou o garfo e a faca e, quase tropeçando no guardanapo, pulou para cima do banco que tinha ao lado e, nesse inesperado pedestal, ficou a tremer como uma donzela à aproximação intempestiva dum brutamontes."
"Em Sacavém, uns rapazinhos apanharam, para nós, duas rãs. Paguei cinco escudos por cada uma" - Alexandre O´Neill, Flama , 20.9.1974. In Coração Acordeão, edição de O Independente, 2004.
"Na mesa, encostada ao muro denegrido, sulcado pelo fumo das candeias, sobre uma toalha de estopa, duas velas de sebo em castiçais de lata alumiavam grossos pratos de louça amarela, ladeados por colheres de estanho e por garfos de ferro. Os copos de um vidro espesso, conservavam a sombra roxa do vinho que neles passara em fartos anos de fartas vindimas."- Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, in Alma Pátria, Patria Alma, Porto Editora, Lda Selecta literária para o sº ciclo, início dos anos setenta.
C. Cunha - Lindley Cintra, Nova gramática do português, Lisboa, Sá da Costa, 1984, p. 645: «os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa; não podem, assim, ser separados por vírgula. Esta a razão por que não é admissível o uso de vírgula entre uma oração subordinada substantiva e a sua principal».
E agora, alguns exemplos avulsos, com garantia de que as vírgulas, estão lá, nos textos originais:
"Este ano, veraneei também por velhos almanaques, amarelados recortes de jornais, receituários de culinária proto-histórica, utilidades e futilidades." - Alexandre O´Neill, A palha do rocinante- a vida em hcesar, Flama, 6.9.1974. In Coração Acordeão, edição de O Independente, 2004.
"Uma vez, eu disse, em conversa com o meu amigo Danilo, a palavra RATO. Danilo, que estava a desmontar, aplicadamente, uma cabeça de pescada, largou o garfo e a faca e, quase tropeçando no guardanapo, pulou para cima do banco que tinha ao lado e, nesse inesperado pedestal, ficou a tremer como uma donzela à aproximação intempestiva dum brutamontes."
"Em Sacavém, uns rapazinhos apanharam, para nós, duas rãs. Paguei cinco escudos por cada uma" - Alexandre O´Neill, Flama , 20.9.1974. In Coração Acordeão, edição de O Independente, 2004.
"Na mesa, encostada ao muro denegrido, sulcado pelo fumo das candeias, sobre uma toalha de estopa, duas velas de sebo em castiçais de lata alumiavam grossos pratos de louça amarela, ladeados por colheres de estanho e por garfos de ferro. Os copos de um vidro espesso, conservavam a sombra roxa do vinho que neles passara em fartos anos de fartas vindimas."- Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, in Alma Pátria, Patria Alma, Porto Editora, Lda Selecta literária para o sº ciclo, início dos anos setenta.
16 comentários:
Perfeito. Em nenhum dos textos que transcreve vejo uma vírgula a separar o sujeito do predicado. Esses gajos sabiam escrever, sem dúvida.
Já o mesmo não podemos dizer de quem publica disparates como estes (que podia decuplicar):
«Esta conversa, já soa a revolução». Estas respostas, Campos e Cunha, não dá.
Sobre o escândalo Madoff, o próprio Paul Krugman, interroga-se. Este requisitório do capitalismo neo-liberal, começa com uma recapitulação. O resto do artigo, segue nesta imagem. O ensino universitário, continua a estudar o que vem lá de fora. O Portugal desta gente, é uma anedota. A revista digital InVerbis, deu conhecimento. Ricardo Costa, está a dialogar.
Vamos a ver se, Deo juvante, consigo fazer-me entender de uma vez por todas. Os elementos essenciais da oração, sujeito-predicado, predicado-complemento, nunca devem ser separados. O mesmo se diga em relação às orações completivas, porque funcionam como complemento da proposição subordinante da qual dependem. Se se introduzir um elemento acessório, atributo, aposto, vocativo, predicativo do complemento directo, complemento indirecto, complementos circunstanciais, agente da passiva, orações adjectivas, orações adverbiais (a esta terminologia do J. N. Figueiredo eu preferiria a do mais velhinho Abílio Bonito Perfeito!), se, dizia, intercalarmos qualquer palavra ou expressão, porque tem de ficar claro qual é o sujeito e o predicado da oração principal, devemos assinalar o início e o fim de cada inciso. Essas duas - sempre duas - vírgulas que delimitam cada inciso, que marcam a suspensão do movimento sintáctico, não separam os tais elementos essenciais, pelo contrário, unem-nos. Se há uma pausa depois do sujeito, espera-se que nova pausa indique o fim do desvio, para se retomar o fio à meada.
Safa! Perdi a pachorra. Agora, só a recibo verde. Estive com estas atenções apenas porque aprecio o que escreve, embora nem tanto como escreve.
Hajapachorra:
Nem me queria meter nisto, porque há coisas que se escrevem à pressa e outras não.
Mas, já que se deu ao trabalho de coca-bichinhos e afirmou que nenhum exemplo continha erros, eu gostava que me explicasse o motivo pelo qual esta frase do Eça está correcta:
Os copos de um vidro espesso, conservavam a sombra roxa do vinho que neles passara em fartos anos de fartas vindimas.
Porque, para o sujeito não estar separado do predicado, ele deveria ter colocado uma vírgula a seguir a copos-
assim-
os copos , de vidro espesso , conservavam a sombra.... (etc.)
Como é que deixou escapar este "erro" de pontuação?
Os outros casos, de facto não contêm erros, porque intercalam complementos circunstanciais.
Mas esta frase do Eça está tão errada quanto os exemplos que o hajapachorra deu.
É precisamente a mesma coisa escrever-se: "Esta conversa, já soa a revolução"
ou:
"os copos, conservam a sombra roxa"
Porque ele não colocou entre vírgulas o tal aposto- o detalhe de serem de "um vidro espesso".
";O))
O único problema que consigo descortinar, nas observações do caríssimo (sem ironia) hajapachorra, é de âmbito estético.
Concedo que, por vezes, abuso da vírgula ( agora mesmo, coloquei-a a seguir ao que, o que nem costumo fazer), para realçar um tom de discurso.
Eu sei que soa a resposta desculpabilizante, mas é assim mesmo.
Penso eu de que. Topa o sentido?
Para mim, a vírgula é apenas um sinal de compasso de espera, pequeníssimo e que pode ajudar a prosódia de um texto, lido em voz alta.
Se não se devem separar entidades como sjeito e predicado, por uma questão gramatical de ordem estética ( não há outra), vejamos então:
José, sabia. Sabia, porque estudou alguma coisa disto, que as vírgulas têm essa função.
Mas, José, gosta de pisar, o risco. O risco que não prejudica ninguém, entenda-se.
O risco, é uma linha apenas. O risco, não tem definição precisa.
O risco, é um artefacto se o quisermos ler assim.
Mas vou fazer um pequeno esforço para acabar com os abusos que fogem à norma e encanitam quem gosta da escrira escorreita.
Para
Sabe de quem me lembro quando escrevo assim?
Da dicção de Mário Viegas. E por vezes de outras dicções. Imagino o O´Neill a torcer vírgulas para as encavalitar onde lhe apetecia.
É verdade que o texto seguido, sem compasso, mínimo que seja, entre sujeito e predicado, soa mais corrido. Mas...por que tem sempre de soar mais corrido?
Estive a ler algumas passagens de autores portugueses, mestres da língua, para os exemplos que apontei.
Camilo, Eça, O´Neill, Raul Brandão, outros clássicos. Nem sequer fui espreitar o Saramago que não trago.
Mas não vou desistir de procurar o Alberto Pimenta e o Esteves Cardoso, para tentar dizer algo mais.
"Esta conversa, já soa a revolução». Estas respostas, Campos e Cunha, não dá."
Tomemos estas duas frases. São inteiramente procuradas com esse sentido escrito, para a leitura.
Esta conversa, ( pausa, reflectida no tipo de conversa que foi apresentada e para vincar o género) já soa ( até aqui poderia meter outra, se pretendesse relaçar a sonorida da conversa, aferida a sinos de rebate. E concluiria com a revolução, entidade mítica de todos os que sonham com os amanhãs a cantar auroras boreais de cor carmim.
Caro haja pachorra:
como disse, vou disciplinar o uso da vírgula nesses casos. Mas sempre que achar oportuno, vou atormentar a regra dos gramáticos.
A poesia, não tem destes constrangimentos. A prosa, terá um pouco mais. Assim mesmo.
Mas...porque não forçar as regras para introduzir alterações na leitura?
Eu sei que não sou génio de escrita e gosto de ler quem me apetece. Mas escrevo quase sempre com um grau de leveza formal, tendo em conta que isso me pode reforçar o lado de não me levar demasiado a sério.
Há regras gramaticais esteticamente imutáveis?
Porquê?
O José tem ouvido musical e está tudo dito.
";O)
Mas eu ainda tenho curiosidade em entender o motivo pelo qual a frase do Eça não tem vírgula entre sujeito e predicado.
Porque tem.
Eu gosto dos derivativos. Dos que seguem vias alternativas com pés e cabeça. Ou com coração, cabeça e estômago.
Por isso é que gosto de O´Neill, de Zappa, de Hunter Thompson. De ALberto Pimenta e de Esteves Cardoso quando descamba. Ontem, descambou bem. Uma boa crónica.
É como disse: se for uma por mês, já não é nada mau...eheheheh! Se for de qualidade superior, entenda-se...ahahah!
Freaks? Não. Equilíbrios para o gosto.
Com, alguma, ironia.
Permita-me, caro José.
Sinceramente., aprecio mais quando nos presenteia com as suas análises politico-sociais., suas incisivas observações, explicações,. independentemente da posição ou quantidade de ,,,.
Entenda, este comentário, como um momento de humor.
Entendo, pois, claro que entendo. Como não? A ironia, é uma arma poderosa quando precisamos de nos rir dos costumes. Castigando-os.
Mas...há vírgulas e vírgulas e lugares onde não se podem meter...
Há vírgulas e pontos; e pontos e vírgulas. Pontos, também. Prontos.
Isso, compreendo. A única coisa que reivindico, é o direito de as colocar entre o sujeito e o predicado, quando tal me aprouver para realçar a leitura que gosto de fazer do que escrevo.
Reivindico esse predicado.
O Paulo Bento diria assim:
Uma, coisa são as, vírgulas, outra coisa são as, pausas.
Ou talvez assim:
Uma... coisa são as... vírgulas, outra coisa são as... pausas.
Com alguma benevolência, diria antes:
naturalmente. As...vírgulas...não se...hum...eh...confundem...com, com, com...a restante pontuação.
Ó zaziómena, aliquando bonus dormitat Homerus: foi só para lhe poder responder que não, que não só coca-bichinhos; a um bicharoco com o José-Maria até uma vírgula se perdoa (aviso, nos entretantos, que vou mais pelo criador do Enxertado), mas não me pergunte pelo José, simplesmente José, uma boa alma que é mister resgatar aos códigos.
Mas responda-me lá, ó caríssimo hajapachorra (e estou como o José, não estou no gozo) a frase do Eça está ou não está errada?
Está pois, se seguir esses critérios gramaticais, também não existe ali justificação para separar o sujeito do predicado com a vírgula.
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