sexta-feira, janeiro 09, 2009

A visão universitária

Em Economia, vertente macro, palpitar opinião sobre qualquer fenómeno é risco acrescido. Tanto que até parece existir um relativismo nas opiniões sobre os assuntos. E de tal modo que aquilo que dizem os meros curiosos e diletantes, muitas vezes, tem maior acerto do que os artigos elaborados de especialistas. O problema, no entanto, reside sempre no timing. Em Economia, vale sempre o dito joaopintiano: no fim, é que os prognósticos se devem fazer. A título póstumo, claro.
No Público de hoje, o professor Luís Campos e Cunha, uma das vozes lúcidas na Economia teórica, escreve sobre o capitalismo e os capitalistas, com referência à intervenção do Estado, no caso o Governo, no sector bancário.
Começa por descascar nos pretensos especialistas que escreveram " as coisas mais inacreditáveis, sobre as intervenções no sector bancário".
E particulariza a seguir, para o BPN e o BPP. Sobre este último, confirma afinal que "os detalhes ainda não são integralmente conhecidos", mas isso não o impede de dar uma opinião, em favor do apoio governamental ao banco falido.
E para tal, sustenta que " a sua falência implicaria efeitos dramáticos no sistema financeiro e drástico para muitas empresas e famílias. Não era possível deixar ir à falência o BPP e, prova disso, vários bancos juntaram esforços para salvar o banco em causa".
Falta dizer, a acompanhar isto, que a tal conjugação de esforços, foi obtida na sequência da intervenção primo-ministerial e depois de o próprio ministro das Finanças, sucessor de Campos e Cunha, no Governo, ter dito publicamente que o caso do BPP não implicava riscos sistémicos.
Ou seja, precisamente o contrário do que afirma agora Campos e Cunha e o Governo, oito dias depois também sustentou, começando por explicar que o problema era de imagem e credibilidade do Estado português, no exterior.
A questão, por isso, permanece em pé: o Governo ajudou deliberadamente os maiores accionistas e depositantes, com maior capacidade financeira ou ajudou apenas os depositantes da geral, confundindo-os com a abstracção das "famílias e empresas"?
O Governo ajudou deliberadamente Pinto Balsemão e a Mota-Engil e outros grandes accionistas, ou ajudou os outros pequenos accionistas anónimos, quase todos do Norte e com depósitos a render juros?

Estas respostas, Campos e Cunha, não dá. Nem pode dar, penso eu de que. E nem entendo porquê.
Por outro lado, a revista francesa Marianne, esta semana, titula assim: "Não há apenas a vigarice Madoff. E se todo o sistema fosse uma vigarice?"
O sistema neo-liberal, entenda-se. Porque durante mais de trinta anos, o capitalismo financeiro visou apenas o enriquecimento infinito de alguns, em detrimento de todos.
Esta conversa, já soa a revolução. Mas ainda não chegou à faculdade de Economia do Porto.

Questuber! Mais um escândalo!