terça-feira, janeiro 27, 2009

O serafim

O ministro Pedro da Silva Pereira concedeu ontem uma entrevista à Sic-Notícias.
Quase no fim, Mário Crespo perguntou-lhe de chofre se a prima do ministro do Ambiente não tinha sido secretária do mesmo ministro do Ambiente, na mesma altura em que Silva Pereira, era Secretário de Estado, precisamente do ordenamento territorial.
Silva Pereira embatucou e mostrando-se quase indignado ( mas porquê?!) disse-lhe que não respondia. Note-se: secretária de ministro é cargo público, mas estas pessoas já nem estão sintonizadas com esta coisa pública. Só com a res privada, pelos vistos. Coisa reservada e que não merece esclarecimento público. Não respondo, disse o ministro indignado.
Por outro lado, Pedro Silva Pereira, com aquele ar seráfico de quem ajuda à missa logo pela manhã, disse uma coisa mais grave, porque é uma aldrabice. Disse assim, na SIC:
Sem “comentar enredos”, o ministro da Presidência alertou para aquilo que disse ser a prova da “maior mentira” que estará a ser contada e que se prende com a alegada relação entre a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) do projecto Freeport e alteração dos limites da ZPE do Estuário do Tejo. Isto porque a DIA data de 14 de Março de 2002 e o decreto-lei que altera os limites da ZPE é de 20 de Maio do mesmo ano. “É uma falsa relação”, garantiu.
Pois bem. Quanto a garantias do acólito Silva Pereira, para além de termos ficado sem saber a história da prima, temos esta:
O tal Decreto Lei que altera os limites da ZPE é datado de «20 de Maio» (DL nº140/2002). É um facto verdadeiro.
Mas...não é de 20 de Maio, porque essa é apenas a data da sua publicação no DR. Repare-se na subtileza seráfica da aldrabice:
O D.L nº 140/2002, diz assim, no fim do diploma, -como todos dizem obrigatoriamente-:
- Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 14 de Março de 2002- António Manuel de Oliveira Guterres, Rui Eduardo Ferreira Rodrigues Pena, Luís Garcia Braga da Cruz, Luís Manuel Capoula Santos, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa- Promulgado a 2 de Maio de 2002; Publique-se. O presidente da República, Jorge Sampaio.
A esta aldrabice de Pereira, junta-se outra circunstância perturbante do senso comum: disse na entrevista que o então ministro do Ambiente, ao receber a chamada do tio, apercebeu-se de uma tentativa de corrupção e tentou por isso estancar o mal, logo ali. Em vez do tráfico da influência, um tráfego de informação meritória.
Cada um que tire as ilações que quiser. O que não deve é esquecer que um ministro tão preocupado com a corrupção, neste caso eventualmente ligada a um escritório de advogados, devia ter denunciado o assunto às autoridades. Imediatamente e à medida da putativa indignação.
Não o fazendo, como não fez, isso chama-se o quê? Não falando nisso quando o processo assumiu os contornos que assumiu em 2005, isso quer dizer o quê?
Que temos um primeiro-ministro digno do cargo que ocupa? Quantas provas mais ainda vão ser precisas para os apaniguados perceberem? Que se demonstre o indesejável, é isso?

Questuber! Mais um escândalo!