"(...) A ideia, segundo a qual, fora do crescimento normal da economia, a criação de valor financeiro, seria infinda.
Todos sabem agora, com excepção dos que o conceptualizaram e aproveitaram, à grande e à francesa que o neo-liberalismo no seu conjunto, não passa de uma vasta vigarice ( escroquerie). Com os seus ladrões, género Madoff, os seus cúmplices voluntários e involuntários ( banqueiros desonestos ou cúpidos, traders corruptos ou ávidos, agências de avaliação, no papel de juízes e partes...).
"O financiamento da economia liquidou o capitalismo da burguesia para o substituir por um capitalismo mafioso", escrevia o filósofo Bernard Stiegler na revista Marianne, em 4 de Outubro passado.
Ora é mesmo disto que se trata: uma mafia com os seus rituais, os seus códigos, os seus esconderijos ( paraísos fiscais), os seus testas de ferro, as sociedades fictícias, os seus princípios de cooptação, a sua organização piramidal, os seus padrinhos...
A razão de ser desta máfia? O enriquecimento infindo de alguns, em detrimento dos outros. Uma mafia que desde há três décadas para cá, expandiu-se, por causa da vigarice intelectual mais vasta de que há memória: o neo-liberalismo. Com o seu braço armado, o neocapitalismo financeiro. E o seu mito fundador: a capacidade autoreguladora dos mercados financeiros.
A acreditar nestes aldrabões, só o livre jogo do mercado permitiria um crescimento mais forte e uma repartição mais justa das riquezas. Com tais princípios, era inevitável que o mundo da finança acabasse por se confundir com od a delinquência."
Este texto, publicado na revista francesa Marianne, desta semana que passa, dá o mote para o enterro do neo-liberalismo. Com a aspersão de água-benta, necessária:
" Um sistema em que se pode consabidamente mentir, durante anos a fio, sobre o valor e a saúde real das sociedades financeiras não será, em si mesmo, uma trafulhice ( escroquerie)? Um sistema que autoriza os estabelecimentos bancários mais reputados do planeta, a suprimir dos seus balanços toda uma série de operações para escapar aos controles legais, não é em si mesmo,uma vigarice pegada, consciente e minuciosamente organizada?
Mesmo o facto de que em numerosos países se tenha abolido toda a separação entre bancos de negócios e bancos de depósito, não é em si mesmo, uma trafulhice legalizada?
A ideia de que um pequeno número de potentados possa atribuir-se rendimentos 2000 vezes superiores ao salário médio não e ela mesmo intrinsecamente portadora da maior intrujice da história económica?
Como explicar que as Nações Unidas não tenham ainda votado uma resolução a proibir pura e simplesmente os paraísos fiscais, esses espaços liberais que abrigam a especulação de várias centenas de fundos de investimento e de alguns 400 bancos internacionais, todos ligados entre si?"
Este requisitório do capitalismo neo-liberal, começa com uma recapitulação dos maiores escândalos financeiros das última década: o escândalo Enron, em 2001; a falência da WorldCom nos USA, em 2002; o escândalo Parmalat, em Itália, em 2003; a vigarice Amaranth, em 2006; e os casos do Lehman Bros e Madoff, já em 2008.
Sobre o escândalo Madoff, o próprio Paul Krugman, interroga-se: "Até que ponto a história Madoff é diferente daquela da Finança por inteiro?" E a resposta surge, clara: nenhuma diferença. E por isso o corolário de Krugman: "Este sistema faliu, não por ser mal gerido, mas por ser corrupto".
Esta mesma semana, a revista americana Fortune, do grupo Time-Life, já nem tem dúvidas sobre o carácter criminoso de muitas actividades bolsistas de Wall Street: "Sending Wall Street to jail", é o título da capa da revista.
Num artigo assinado por Edward Hadas ( abaixo, clicar para ler) , a ideia repete-se: o neo-liberalismo acabou. E em seu lugar parece surgir uma ideia antiga, o Keynesianismo. E que lhe parece uma ideia errada, por alguns motivos: gerou inflação, depois de ter sido aplicada nos anos sessenta; e o Japão, durante duas décadas, seguiu-lhe as receitas, sem sucesso.
Portanto, o melhor que os economistas deveriam fazer, era procurar ideias novas. E apresenta três sugestões:
1. Valorizar o equilíbrio, tanto como a liberdade. Moderação, portanto.
2. As regras e políticas financeiras devem passar a encorajar a responsabilidade e a punir o excesso de wishfull thinking.
3. Os economistas devem passar a estudar filosofia. Uma nova filosofia de dinheiro e do crédito baseados na inabilidade humana para agir virtuosamente, poderia ser a chave para um futuro economicamente mais saudável.
Imagem da Fortune de 19.Janeiro 09
Todos sabem agora, com excepção dos que o conceptualizaram e aproveitaram, à grande e à francesa que o neo-liberalismo no seu conjunto, não passa de uma vasta vigarice ( escroquerie). Com os seus ladrões, género Madoff, os seus cúmplices voluntários e involuntários ( banqueiros desonestos ou cúpidos, traders corruptos ou ávidos, agências de avaliação, no papel de juízes e partes...).
"O financiamento da economia liquidou o capitalismo da burguesia para o substituir por um capitalismo mafioso", escrevia o filósofo Bernard Stiegler na revista Marianne, em 4 de Outubro passado.
Ora é mesmo disto que se trata: uma mafia com os seus rituais, os seus códigos, os seus esconderijos ( paraísos fiscais), os seus testas de ferro, as sociedades fictícias, os seus princípios de cooptação, a sua organização piramidal, os seus padrinhos...
A razão de ser desta máfia? O enriquecimento infindo de alguns, em detrimento dos outros. Uma mafia que desde há três décadas para cá, expandiu-se, por causa da vigarice intelectual mais vasta de que há memória: o neo-liberalismo. Com o seu braço armado, o neocapitalismo financeiro. E o seu mito fundador: a capacidade autoreguladora dos mercados financeiros.
A acreditar nestes aldrabões, só o livre jogo do mercado permitiria um crescimento mais forte e uma repartição mais justa das riquezas. Com tais princípios, era inevitável que o mundo da finança acabasse por se confundir com od a delinquência."
Este texto, publicado na revista francesa Marianne, desta semana que passa, dá o mote para o enterro do neo-liberalismo. Com a aspersão de água-benta, necessária:
" Um sistema em que se pode consabidamente mentir, durante anos a fio, sobre o valor e a saúde real das sociedades financeiras não será, em si mesmo, uma trafulhice ( escroquerie)? Um sistema que autoriza os estabelecimentos bancários mais reputados do planeta, a suprimir dos seus balanços toda uma série de operações para escapar aos controles legais, não é em si mesmo,uma vigarice pegada, consciente e minuciosamente organizada?
Mesmo o facto de que em numerosos países se tenha abolido toda a separação entre bancos de negócios e bancos de depósito, não é em si mesmo, uma trafulhice legalizada?
A ideia de que um pequeno número de potentados possa atribuir-se rendimentos 2000 vezes superiores ao salário médio não e ela mesmo intrinsecamente portadora da maior intrujice da história económica?
Como explicar que as Nações Unidas não tenham ainda votado uma resolução a proibir pura e simplesmente os paraísos fiscais, esses espaços liberais que abrigam a especulação de várias centenas de fundos de investimento e de alguns 400 bancos internacionais, todos ligados entre si?"
Este requisitório do capitalismo neo-liberal, começa com uma recapitulação dos maiores escândalos financeiros das última década: o escândalo Enron, em 2001; a falência da WorldCom nos USA, em 2002; o escândalo Parmalat, em Itália, em 2003; a vigarice Amaranth, em 2006; e os casos do Lehman Bros e Madoff, já em 2008.
Sobre o escândalo Madoff, o próprio Paul Krugman, interroga-se: "Até que ponto a história Madoff é diferente daquela da Finança por inteiro?" E a resposta surge, clara: nenhuma diferença. E por isso o corolário de Krugman: "Este sistema faliu, não por ser mal gerido, mas por ser corrupto".
Esta mesma semana, a revista americana Fortune, do grupo Time-Life, já nem tem dúvidas sobre o carácter criminoso de muitas actividades bolsistas de Wall Street: "Sending Wall Street to jail", é o título da capa da revista.
Num artigo assinado por Edward Hadas ( abaixo, clicar para ler) , a ideia repete-se: o neo-liberalismo acabou. E em seu lugar parece surgir uma ideia antiga, o Keynesianismo. E que lhe parece uma ideia errada, por alguns motivos: gerou inflação, depois de ter sido aplicada nos anos sessenta; e o Japão, durante duas décadas, seguiu-lhe as receitas, sem sucesso.
Portanto, o melhor que os economistas deveriam fazer, era procurar ideias novas. E apresenta três sugestões:
1. Valorizar o equilíbrio, tanto como a liberdade. Moderação, portanto.
2. As regras e políticas financeiras devem passar a encorajar a responsabilidade e a punir o excesso de wishfull thinking.
3. Os economistas devem passar a estudar filosofia. Uma nova filosofia de dinheiro e do crédito baseados na inabilidade humana para agir virtuosamente, poderia ser a chave para um futuro economicamente mais saudável.
Imagem da Fortune de 19.Janeiro 09
2 comentários:
Valente postal.
Nestas coisas parece que andamos sempre em sintonia...
Pela minha parte é uma natural desconfiança de tudo o que me parece ser contra-natura.
O dinheiro não foi feito para se vender e quanto a mão invisível na única em que tenho fé é na de Deus.
Bom POST José
Razão tem o meu rapaz, cadeia com eles!
Enviar um comentário