segunda-feira, janeiro 12, 2009

Armando Vara, outra vez

Sobre o socialista Armando Vara, próximo deste primeiro-ministro e deste governo, muito haveria a dizer, em proveito das gerações vindouras. Como exemplo prático, concreto, evidente do modo como se ascende social e profissionalmente, por mor da actividade política, de base e de concelhia, porfiada ao longo de anos.
É também um caso que suscita o ridículo em vários modos, incluindo o do Inimigo Público, agora às quintas, no Público. De um ridículo que não mata, nem sequer mói.
Um fenómeno, portanto.
A última, depois do buzinão na ponte, na ascensão ao governo, da fundação afundada, da licenciatura e pós-graduação aprimorada na Independente e da nomeação para a Caixa e escolha para banqueiro de administração de outro banco, com encómios sérios de bancários parceiros, tem a ver com isto:
Armando Vara foi promovido na Caixa Geral de Depósitos um mês e meio depois de ter saído dos quadros do banco público para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Português.
O tipo nem comenta, claro. O que iria dizer, afinal? Aquando do caso da Independente, comentou em televisão que "água-rás no cu dos outros, é refresco"
Foi assim, o argumento. E nem disse "cu". Disse "rabinho".

Aditamento, às 21h e 15 de 13.1.20091.

No blog Da Literatura, defende-se o deputado, político, administrador, vindo das berças de Trás-os-Montes, de trás do balcão da Caixa para a frente da administração. Assim:

"No país dos doutores, os media não perdoam: como é que um homem destes, depois de ter sido várias vezes eleito deputado, foi duas vezes secretário de Estado e outras duas ministro."

Como? Quem assim escreve, até parece que não sabe como se é deputado em Portugal, de partido de poder. Será preciso explicar tudo, desde o início, ou seja, desde a concelhia, os amigalhaços "da política", as reuniões, o partido que lhes pertence e tudo o mais que toda a gente sabe e por isso mesmo, não se deixa enganar com a frase "depois de ser várias vezes deputado"? A qualidade de deputado, reconhece automaticamente o valor a alguém? Será porventura prestigicada verdadeiramente, hoje em dia, a função de deputado?

E será alguma admiração depois de ter sido "várias vezes deputado", passar a ministro ou secretário de Estado? E se escrevesse que tem sido sempre da Maçonaria, não ajudaria a perceber melhor o perfil, deste figurão que já foi "várias vezes deputado"? E se escrevesse que sendo deputado, manifestou o seu direito à indignação democrática, na ponte sobre o Tejo, clamando para o repórter, no interior do seu carrinho utilitário ( o dinheiro ainda não chegava para mais...): Não pagamos! Não pagamos!, acompanhado pela buzinadela da praxe, em reclamação por outro governo que acabou por vir e lhe dar o tal lugar, por duas vezes secretário de Estado e por duas vezes ministro? Vara, como secretário de Estado e como ministro, notabilizou-se em quê, particularmente? Alguém sabe?

3. "tendo chegado a administrador da CGD e do Millennium BCP". Ora aqui é que a porca torce o rabo retorcido. Vara foi para administrador da CGD, tal como Celeste Cardona tinha ido. Com uma desvantagem: Celeste Cardona é formada em Direito, praticou e até ensinou. Vara, tirou um curso à pressa ( será preciso explicar tim por tim como é que foi, será mesmo?! Ou bastará a pouca-vergonha como explicação?) e até tirou uma pós-graduação, à semelhança do amigo que está em primeiro.

4. "Sim, houve um negócio rocambolesco da Fundação para a Prevenção e Segurança".

Rocambolesco será o adjectivo adequado? Vejamos, o Trib. de Contas à época ( 2002), escreveu num Relatório disponível que a fundação não fora dotada de um património inicial e autónomo, elemento fundamental à sua instituição e à obtenção do respectivo reconhecimento. Rocambolesco, isto? Não. Perfeitamente ilegal, lesivo dos interesses do Estado e abusivo.

Vara, para facilitar e actuar com proactividade, procedeu à transferência de verbas do MAI para a FPS, ilegalmente, com vista à prossecução de acções concretas bem especificadas. Vara quis facilitar procedimentos, passando por cima das leis, num claro abuso de poder que o MP, não valorizou criminalmente, mas criticou, tal como o TC. Criticaram a falta de transparências nestas contas que são públicas e que Vara tratou a pontapé, porque imbuído do pleno convencimento que tudo lhe seria permitido e perdoado. A ele e ao Patrão. O retrato dos abusos político, travestido de Rocambolesco.

5. "Pertencesse Vara ao círculo dos happy few do eixo Lisboa-Cascais, ou viesse das famílias com pedigree... e os media metiam a viola no saco, como metem sempre (o recente imbróglio do BPP é eloquente), assobiando na direcção do vento."

Ora, isto é repescar a tese da luta de classes. O pobre vindo das berças, contra o burguês da linha de Cascais.
O argumento é tão poderoso que nem aguento rebatê-lo.


Questuber! Mais um escândalo!