domingo, março 18, 2012

Agora é a Finlândia...


Este artigo de um "mestre em Direito", no Expresso de ontem, sobre o nosso sistema judiciário vem relançar novamente a discussão sobre o nosso modelo de justiça aplicada. Acima deste escrito mostrado, aparece outro, no mesmo sentido, de um tal Patrique Fernandes, "partner da PwC" ( só a menção a partner já é um programa porque incapaz de traduzir a ideia em português, num parolismo ambiente incontornável neste tipo de actividade). Defende o Patrique uma análise metricamente diacrónica do tempo de duração dos processos como modo de aferição da qualidade na justiça. Coisas de contabilistas. Também recorre ao exemplo finlandês para provar que andamos mal. O Reino Unido, como se tem visto no caso Vale e Azevedo, já não serve de exemplo...e o americano, no caso do português que matou outro português e passado mais de um ano ainda não foi julgado ( aqui já o teria sido com toda a certeza) não lhes merece comentários também. Enfim.
Na mesma página, ao lado e transcrito também aparece um artigo da actual ministra da Justiça, provavelmente a melhor ministra de Justiça em trinta anos em Portugal. Veremos porque é apenas um palpite.
Não obstante, as ideias de um escrito e de outro assentam no mesmo desígnio para a justiça em Portugal: simplificar os procedimentos e tornar mais célere a decisão final.

As ideias da ministra já estão a ser postas em prática e as ideias do "mestre de Direito" são apenas isso, ideias que já são peregrinas de muito caminhar ao longo dos anos.
O referido mestre, João Arsénio Oliveira deixa-se enredar na armadilha fatal para muitos outros analistas do tema: a comparação de mundivivências diversas, dissemelhantes e sem paralelo na tradição.
O simples facto de a Finlândia não ser como Portugal, nem em clima, nem em organização social, nem em tradição, nem em cultura comum, nem em tipologia antropológica por assim dizer e nem em conceitos éticos, morais ou de outra índole, não o afasta da comparação incentivadora à imitação do sistema que depende de tudo isso para funcionar em modo coerente.

Este tipo de ideias geniais e aparentemente simples faz-me lembrar outra ideia do mesmo género: aplicar os códigos penais, com as regras processuais que temos, em Angola. Tal como acontece actualmente e com a imitação de um sistema judicial plasmado formalmente no nosso, com as mesmas figuras institucionais e as mesmas organizações judiciais.
Nós, pela nossa parte e pelo esforço dos anos sessenta da escola de Coimbra e dos professores que se doutoraram na Alemanha ou com subserviência completa aos ideiais alemães, copiamos, imitamos e inventamos nomes copiados e conceitos plagiados dos alemães para nos regermos socialmente em temos penais e não só.
Os angolanos fizeram melhor: copiaram o que nós copiamos.
Resta perguntar: o que dá isto, em termos práticos? O que temos visto.
Se seguirem a ideia peregrina do "mestre em Direito" , adoptando agora o modelo finlandês, é certo e sabido: vamos ter mais do mesmo. Como tivemos na Educação, cujo modelo finlandês também foi muito procurado. Enfim outra vez.

29 comentários:

zazie disse...

Esperemos que a ministra leia este blogue

ehehehhe

Também penso o mesmo acerca dela.

Zephyrus disse...

Mais provincianismo? Nós não precisamos de imitar ninguém, isso é um ERRO. Precisamos sim de criar o nosso próprio modelo, baseado na nossas especificidades culturais, históricas, sociais. As imitação são sempre um fracasso porque não têm em conta que nós somos DIFERENTES de quem estamos a tentar imitar. Por isso não resultam.

josé disse...

O óbvio custa muito a aceitar a certos génios. E ainda mais a reconhecer as burrices. Vão voltar a cometer os mesmos erros para depois se desculparem.

É a nossa fatalidade, acreditarmos em pessoas assim. Só por parolice acontece.

Agora é a altura dos contabilistas. Até o Patrique da PwC se julga habilitado a escrever sobre o assunto.

zazie disse...

A hora dos contabilistas
ehehhehe

Estes estrangeirados são uns parolos.

Floribundus disse...

preferia que copiassem o modelo capaz de funcionar
em Coimbra não há escola, mas funcionários públicos que às vezes até dão aulas

Wegie disse...

Caro: O modelo finlandês foi muito citado mas nunca apicado na educação.

Sobre o saco cheio de vento que é o artigo da ministra não dizes nada? Isto de dizer que a reforma da justiça passa pelas "novas tecnologias" é algo que até o José Sócrates diria.
Entretanto continuamos placidamente a assistir a julgamentos com colectivo de 3 Juízes, um procutador da república, um queixoso, um arguído, advogados, testemunhas, polícia.Crime em causa um roubo de 1,6 euros.

hajapachorra disse...

na educação o modelo finlandês? Foi muito procurado?!?! nada mais longínquo, na educação, ou melhor, nas 'ciências' da dita ia-se mais perto, a um troisiéme cycle numa quqlaquer école do hexágono ou na forma ainda mais expedita num master de agosto em Boston. Agora nem é preciso, copia-se e aplica-se o que sumidades indígenas do Minho ao algarve debitam em incessantes manuais da banalidade mentecapta. Finlândia? Lá nesses confins aprende-se latim.

hajapachorra disse...

Ooops, já alguém tinha notada que a conversa da finlândia tem sido só treta. As minhas desculpas.

Zephyrus disse...

Uma universidade onde as faculdades disponibilizam os edifícios para os estudantes organizarem festas até à hora do sol nascer, em vésperas de dia de aulas, não pode ir de facto muito longe. Uma universidades que organiza um cortejo onde centenas ou mlhares de alunos desfilam bêbados e levam banhos de cerveja, perante pais e avós babados na assistência, não pode ir muito longe. Uma universidade onde os alunos memorizam diapositivos e raramente pegam nas obras de referência e nas fontes não pode ir muito longe. E muito mais poderia aqui escrever. Refiro-me a Coimbra. Mas no resto do país a coisa está parecida.

josé disse...

Ontem fiquei triste. Um amigo meu, licenciado, há uns anos ( bastantes, aí vinte) mostrou competência para gerir uma escola de enfermagem. É indivíduo dinâmico, como se costuma dizer e conseguiu passar para um Instituo politécnico onde ganhou eleições, com mérito.
Ao mesmo tempo que fazia isso tudo conseguiu arranjar tempo para fazer um "doutoramento". Parece que era um daqueles em colectivo em que alguns trabalham e outros aproveitam. Não sei e não quero indagar muito mais.
Ontem reparei que se faz agora intitular "professor doutor".

Fiquei mesmo triste porque não julgava que a coisa fosse tão longe.

Fez-me lembrar o emigrado de Paris, com a licenciatura.

zazie disse...

Mas incluiu o "professor doutor" no livre de cheques?

eheheh

Uma vez perguntei a um se o "professor" era apelido materno e se era doutor por parte do pai.

zazie disse...

Uma coisa que me intriga e que o Zephyrus voltou a repetir:

Que é isso de aulas decoradas de "diapositivos"?

É que diapositivos é uma coisa que praticamente já nem existe e, quando existiram, apenas se utilizavam nos ramos artísticos, como é óbvio.

Zephyrus disse...

Os professores apresentam as aulas recorrendo a slide de Power Point. Depois os alunos decoram os dados que lá estão: definições, percentagem de infectados com a doença x, fórmula y, etc. Não acontece em todas as cadeiras, mas é muito comum. Há também outros casos interessantes. Professores que não fornecem os tais slides, nem um guia de estuda, nem uma bibliografia recomendada. Os alunos ficam perdidos e não sabem por onde estudar; e por vezes fornecem bibliografia, mas é tão extensa e absurda que fica impossível estudar aquelas mil ou duas mil páginas em três meses, até porque há outras cadeiras para fazer. Alternativamente, perguntam o que não foi leccionada nas aulas nem está na bibliografia aconselhada. Assim está o nosso Superior.

Zephyrus disse...

Peço desculpa pelos erros do comentário anterior. Saudações.

zazie disse...

Não fazia a menor ideia.

Mas como é que podem decorar o que está num power-point se não lhes for facultado?

Zephyrus disse...

A maioria dos professores faculta. E acho que o problema não está aí. Os powers points devem ser facultados, mas também devem servir como um guia para orientar o estudo dos alunos na obras de referência ou nos artigos científicos. Não devem servir como material de estudo. E a culpa têm os professores que não sabem orientar o estudo dos alunos e que perguntam exactamente o que colocam nos slides. Em Cambridge, consta, colocam tutores para orientar o estudo dos alunos. Aqui, nos tempos livres, os alunos mais velhos praxam.

Zephyrus disse...

Lamentavelmente temos poucos bons professores, que seguem de certa forma o modelo «anglo-saxónica». Vénia ao professor Rui Fontes ou ao professor Sobrinho Simões, da Faculdade de Medicina do Porto, que são bons exemplos.

Zephyrus disse...

Eu e os erros. Bem, já não estou a dar o exemplo. Errata: «anglo-saxónico». Vou começar a olhar para o teclado enquanto escrevo.

Zephyrus disse...

Alguém leu as críticas dos alunos ao Ministro Álvaro dos Santos Pereira? Parece que chega atrasado às aulas e que para tirar boas notas basta memorizar uns materiais fornecidos pelo professor. Faz apenas o que é norma por cá.

hajapachorra disse...

O império do powerpoint estende-se em todas as latitudes e longitudes. Não é só cá. Por isso proíbo que me alanzoem com tal trambolho, a menos que tenham imagens para mostrar e alguma coisa para dizer sobre elas. Nos US também já começam a proibir a brincadeira. De facto em certos ramos, onde a retórica é olimpicamente ignorada, o raio do powerpoint fez~se santo e senha de 'competência'. As merdas que aims and outcomes fazem! Diz um amigo da carolina do norte que agora um fabiano num congresso se quiser parecer atento está positivamente fodido, tem de olhar para a porra do pps, para o handout e ainda fingir que ouve o que vai falaçando o energúmeno, três discursos simultãneos, não raro qual deles o mais ininteligível. Quanto ao fetiche cafre pelo prof. doutor, já vi de tudo, até a andarem à porrada por causa dessas precedências mariconças. Agora um gajo até pode tê-los nos cheques e estar inocente: os morcões da caixa fazem isso por sua iniciativa.

josé disse...

Por causa dos cheques: a primeira vez que me puseram o prefixo no nome, mandei apagar. Logo. Para surpresa do funcionário diligente que muito admirado perguntou porquê...
Não lhe expliquei que aquilo era uma palermice parola porque o nome de baptismo não traz prefixos desses.

Mas não adiantou muito. Logo a seguir repetiram. Desisti. Como não uso cheques tanto me faz.

Mas continuo a detestar o prefixo por tudo e por nada.
Porém mais que isso detesto o prefixo por extenso e solitário, como modo de chamamento.

Isso é que me encanita...

josé disse...

Por outro lado, acho que no Porto, os empregados de balcão sempre que vêem alguém que lhes cheira a licenciado por qualquer merdice expelem logo o ápodo: "Ó doutor..."

Portugal é um viveiro de complexidades sociológicas cujo húmus vem do terceiro mundo.Ou seja, do mundo atrasado em relação à civilização urbana.

Zephyrus disse...

A obsessão dos alunos de classe média e média-alta pelo curso de Medicina revela muito do nosso atraso social, a par do desprezo dado à Biologia, Matemática, Física, Química, Filosofia, História, Latim, Grego, Bioquímica, etc. Ou ainda da degradação que ocorreu no Direito ou na Arquitectura, com a proliferação de cursos.

zazie disse...

Pois é assim mesmo: uma parolice que tende a aumentar na proporção directa dos burros doutores.

E tenho umas histórias muito engraçadas com essa parvoeira. Uma delas inclui umas "doutoras nutricionistas" daquelas pagas pelo estado para não fazerem pôrra, que entraram na casa de uma idosa sem sequer pedirem autorização ou irem cumprimentar a pessoa.

Vinham atrás das raparigas que fazem a higiene e estas esclareceram logo que não eram "meninas" como elas- que trabalham de bata- eram doutoras nutricionistas- a "nutricionarem" dentro do frigorífico de casa particular e sem darem satisfações a ninguém.

zazie disse...

As juntas de Freguesia estão pejadas destas doutoras. São doutoras nas coisas mais impensávels e inúteis mas toda a gente tem de as tratar por "ó doutora".

As psicomongas, então, são a granel.

zazie disse...

Por causa das doutoras nutricionistas (que andam aos pares, como as freiras ou as p....) ainda gramava saber quantas existem por freguesia.

E o que fazem é de tal modo hermético que ainda justifica mais o tratamento doutoral.

Enfiam os narizes nos frigoríficos e tiram apontamentos à treta da comida congelada que as "não doutoras" entregam.

P. disse...

Sobre os "ixos", a Caixa e outros lá metem nos cartões e nos cheques o que querem.
Mas a criação de endereços de correio electrónico com o "prof" ou o "dr" (como prof.melo.lala@mail.xl) é da inteira responsabilidade dos artistas. E não faltam exemplos...

hajapachorra disse...

Mas há-os mais requintados, refiro-me aos sapos inchados: conheço um que fez imprimir nos cartões de visita não só os títulos como os frontispícios dos livros que vai parindo, malgré lui.

zazie disse...

ahahahha
Esse é artista posmoderno.

O Público activista e relapso