terça-feira, março 27, 2012

A petite histoire sobre a política da judicialização

Aqui há uns anos era secretário de Estado da Justiça, se bem me lembro, Tiago da Silveira, um socialista filho de juiz que foi conselheiro.
Por altura da criação fantástica desse monumento à ineficácia informática dos tribunais chamado pomposamente Citius, o governo entendeu que devia andar pelo país fora a explicar o produto, nos seus desenvolvimentos mais judiciosos. Em determinados locais, como sejam os tribunais de Relação, a apresentação tinha honras de happening com diapositivos em Powerpoint, onde se explicava, aos aí dignos representantes do poder judicial, em gráficos elaborados com linhas ,setas e campos, o esquema fundamental da coisa informatizada.

Por essa altura calhou ter parado, acompanhado de um colega, no tribunal da Relação de Guimarães, acidentalmente, num dia de manhã, para prestarmos depoimento num processo.
Como a diligência acabou depressa, ficamos a ver a exposição de Powerpoint e o discurso governamental aprontado a propósito. No final, era a hora de almoço e preparávamo-nos para abalar dali quando surgiu o convite: vinde almoçar connosco! Onde? Ali em cima à saída da cidade. Vai toda a gente mais a gente do governo que apresentou a exposição de razões para confiarmos no progresso tecnológico na justiça. E lá fomos, sabendo que éramos intrusos e que o almoço corria por nossa conta. Correu tudo bem, num daqueles restaurantes de Guimarães, destinado a servir empresários de sucesso e por altura da sobremesa já só nos perguntávamos quanto iríamos pagar...
Nada! Não pagam nada. O dito governante chegou a barriga ao balcão e pagou. Eram para aí umas cinquenta pessoas, por baixo, e o Estado pagou tudo.
Por mim fiquei surpreendido e admirado. Então agora isto é assim? E se hoje é assim, como irá ser amanhã? E ontem como foi? E por esses meses ( e anos) a seguir, como foi?

Tenho para mim que a despesa, que obviamente não seria inferior a duas dezenas de euros por pessoa, ficou mais cara e nem terá sido "marralhada" pelo pagante. Tenho ainda para mim que esta atitude releva de abuso de dinheiros públicos. Tenho por fim, para mim, que colaborei num abuso e disso me arrependo, mas já é tarde porque fiquei sempre com má-consciência.

Tenho mesmo finalmente para mim que devo ser um tanso porque as demais pessoas que lá estavam, incluindo os desembargadores e procuradores gerais e tutti quanti, nem sequer dão importância ao caso. É normal, isto?

Não integro este facto, que se deve ter repetido milhentas vezes, nos casos dos cartões de crédito e eventuais abusos em modo de crime de peculato, mas anda lá perto.
Porém, deixar passar estas coisas em claro é ser cúmplice de um desmando que se verificou por junto e atacado durante os governos de José Sócrates.
Fez muito bem a ASJP de António Martins em participar criminalmente ao MºPº os factos e elementos de que tomaram conhecimento, com as despesas dos ministérios dos governos de José Sócrates. Parabéns à sua iniciativa, coragem e destemor que contrasta com a atitude de quem lhe sucede.
António Martins merece um louvor público porque há poucos juízes com a sua fibra. E é pena...

8 comentários:

S.T. disse...

A acreditar no jornal das 20 da TVI temos um novo suspeito no caso freeport , um tal de «Pinóquio» .

:-))

Wegie disse...

Já me aconteceu inúmeras vezes. Não sendo o pagante directamente membro do governo, o dinheiro tinha a mesma proveniência: Os contribuintes. Isto porque cartões de crédito com plafonds mirabolantes não são exclusivos dos governos e existem por toda a administração pública.

Floribundus disse...

aumentou a minha consideração por ANTÓNIO MARTINS

'uns comem os figos,
aos outros rebenta a boca'

joao disse...

Magnifica clareza de exposição

As coisas parecem tao simples nao e.?

joao disse...

Magnifica clareza de exposição

As coisas parecem tao simples nao e.?

Streetwarrior disse...

Sim, José.
Foi só no governo do Engº Trocaste..faz de conta que eu acredito...neste a Musica vem de outro instrumento, mais afinado,claro!!
Já agora....quem irá julgar este caso?
Qual o Juiz delegado que não seja considerado "com interesses próprios ", visto que pertencem todos á ASJP ?
Gostava de ouvir a resposta a esta duvida que tenho.

zazie disse...

Releia:

http://portadaloja.blogspot.pt/2012/03/rigor-jornalistico-precisa-se.html

Streetwarrior disse...

Ok Zazzie...está explicado.
Obrigado.

A obscenidade do jornalismo televisivo