segunda-feira, março 05, 2012

O Público não se renovou

O Público de hoje é oferecido. Como os almoços nunca são grátis quem o paga não são os leitores.
O motivo da esportulação avulsa radica numa efeméride, o aniversário do jornal ( 22 anos) e uma renovação gráfica preparada com longos meses de estudos e experiências.
Procurei o autor da tal renovação e o jornal não diz. Na ficha redactorial aponta o nome de Sónia Matos como "directora de arte", pelo que presumo ter sido alguém com responsabilidades na "renovação".
Resumidamente, a renovação não me agrada porque imita o grafismo já de si pouco interessante de um Diário de Notícias, nos títulos e até em certa paginação. Nesse aspecto estava melhor como estava. Nas páginas em que avulta a reportagem, provavelmente melhorou, graficamente, com a opção pela cor de fundo de página. As fotos não me entusiasmam e o modo de as colocar na página também não. A extinção da P2 é uma perda, de algum modo e pode contribuir a breve trecho para deixar de comprar o jornal porque acaba um motivo por vezes determinante para ler algo que diferenciava o jornal de outros.
Graficamente há muitos jornais que ao longo dos anos me entusiasmaram pela novidade e pela inovação gráfica sempre surpreendente. O melhor exemplo que consigo arranjar é a revista Rolling Stone, em papel de jornal e que nos anos setenta era uma delícia para ler e ver quinzenalmente. No início dos anos oitenta também se renovou e conseguiu melhorar ainda mais.
O Público, ao contrário do que aconteceu há cinco anos, não melhorou graficamente. Veremos o que acontece esta semana, para ter uma melhor opinião, mas os auspícios não são os melhores.

A primeira página de hoje não desilude, apesar de remeter para o rodapé o que antes estava no cabeçalho. Antes estava bem e acompanhado de títulos de assuntos tratados no interior. Agora os títulos também baixaram para o rodapé.
Supõe-se que em cabeçalho passarão a ocupar o espaço as notícias importantes. A de hoje é que André Villas-Boas foi despedido do Chelsea. Uma notícia de ontem e como já cantavam os Rolling Stones, who wants yesterday papers? Só os coleccionadores.
Entregar uma edição do dia de aniversário a um suposto pensador formado em filosofia e estrangeirado, poderia ser uma boa ideia, caso o pensador fosse do tipo dos que escrevem nas revistas francesas de informação. José Gil, confessadamente, não conhece o país em que vive. E por isso faz perguntas avulsas tentando perceber quem o rodeia e o que pensam os semelhantes.
Quem já ouviu José Gil em televisão ficou talvez com aquela impressão de um discurso redondo e dedundante de reduções abstractas sobre a utilidade da roda ou dos rodízios chocalhantes. Para José Gil, " a informação por definição, vive da positividade do dado, do pleno, que nos enche os olhos e o cérebro criando a ilusão de pensamento".
É destas frases que se rodeia o pensamento de José Gil. Frases rotundas de uma rotatividade de ratos em rodinhas rolantes. Frases soltas desprovidas de teor semiótico compreensível e acolhedor. Frases soltas que espelham, a meu ver, uma grande confusão mental de quem as produz.
Um jornal tende fatalmente a espelhar a idiossincrasia de quem o dirige e o Público não só espelha tal coisa como se espalha ao comprido com a reduzida amplitude de vistas impressas e publicadas.
O Público, no dizer do cronista Rui Tavares, deveria procurar um efeito seguro no mundo mediático actual: fornecer diariamente as notícias e "uma explicação de como as coisas funcionam".
Como é que o Público explica o modo "como as coisas funcionam"?
Evidentemente, segundo a concepção da direcção do jornal. Não escondo a minha aversão intelectual à actual direcção, corporizada em Bárbara Reis e Miguel Gaspar que me irrita pela prosápia.
O resto da direcção do jornal comunga numa ideia jacobina entranhada e que é pano de fundo idiossincrático de tudo o que jornal publica. Tudo.

Talvez por isso mesmo tenham tanta dificuldade em perceber a sociedade portuguesa.
No jornal de hoje, em duas páginas interiores dá-se conta numa reportagem esforçada, da petite-histoire de dois padres irmãos e que paroquiam em duas aldeias do Alto-Minho. Leit-motiv: o escândalo sexual que atingiu um deles e o escândalo de dinheiros que salpica outro. A matéria contende obviamente com aquilo que de mais radical habita no ser humano, a cupidez e a luxúria. Dois pecados capitais que são colados à pele mediática dos dois padres. Pergunta-se: que interesse noticioso ou de reportagem tem isto? Tem tanto como a que poderia escrever-se sobre os jornalistas do lado, na redacção do Público.
Qualquer um de nós, jornalista ou profissional de qualquer outra coisa, tem pecados capitais, de luxúria, cupidez, soberba ou ira. Não seríamos humanos se os não tivéssemos.
Serão aqueles dois padres exemplos desses comportamentos desviantes à moral cristã e por isso mesmo criticáveis mediaticamente, pela aparente ausência de coerência?
E quem é o jacobino do Público para o julgar?
Entender a nossa sociedade pode passar por fazer este tipo de retratos tipo fotomaton jornalístico em que nem sequer se ouvem os envolvidos, mas para transmitir a ideia geral que congrega as subtilezas individuais de um comportamento com as socialmente aceites em determinada comunidade, é preciso muito mais que duas páginas do jornal a citar opiniões de paroquianos.

Como diz José Gil na primeira página do jornal, com uma ideia afinal importante, mas de uma evidência que não carece de nenhum filósofo para a enunciar: "o vazio de conhecimento sobre Portugal condiciona as políticas".
E as notícias, acrescento eu.

6 comentários:

Floribundus disse...

vi a gaja a falar na tv e
recordei a anedota darwinista:
«macaca para o macaco na selva africana
-vamos recomeçar que a última evolução deu merda»

Unknown disse...

Realmente o vazio de conhecimento sobre Portugal é gritante e quiçá uma das razões para o nosso fraco desenvolvimento a todos os níveis.

bicadinhas.blogspot.com

Karocha disse...

José
Nem oferecido o quis!

Colmeal disse...

Karocha,

se tiver curiosidade pode fazer o download aqui :

PUBLICO 5-03-2012


com a vantagem de não sujar as mãos ...

hajapachorra disse...

Desculpai, mas essa bárbara ou lá que é não passa de uma testa de ferro, de ferro muito oxidado, da ainda mais oxidada São José, a verdadeira directora, a primeira e a última, que tal produto não tem hipótese nenhuma. Convidar um solipsista completamente ignorante do mundo e da matéria que diz professar só podia ocorrer àquelas cabecinhas ocas do terceiro género.

Karocha disse...

Muito obrigada,Colmeal ;-)

A obscenidade do jornalismo televisivo