quinta-feira, março 29, 2012

As criadas de Salazar e as empregadas domésticas de Mário Soares


Hoje na Visão tentei-me por um escrito sobre Salazar. A capa não alvitrava nada de bom: Salazar tinha uma criada que foi a última, mas no escrito de dentro afinal são mais de meia dúzia. Hoje em dia não há criadas, só empregadas domésticas e portanto o artigo da Visão soa a revivalismo.

Assinado por Miguel Carvalho é uma boa surpresa. Sem ser genial brilha no escuro ambiente. Em algumas pinceladas de tecla impressionista, mostra um quadro neo-realista de uma paisagem social dos anos sessenta, no palácio do presidente do Conselho, Salazar. O “ditador fascista” que continua a atezanar os dias e noites dos antifassistas encartados é mostrado no seu contexto de “conta-me como foi” pela criada de antanho que não esqueceu o tempo que lá passou e lhe deixou saudades.

Nalgumas frases da criada Rosália reside o segredo da época que poucos retratam com rigor e muito raramente por escrito. Quem sabe o segredo não o conta e quem não sabe, por que pergunta, afinal?

O que alguns pindéricos do poder político situado relatam como a “mesquinhez” de Salazar tem outro contexto que por aqui é revelado nas entrelinhas e que os mesmos não entendem e nunca entenderão. Mas a criada Rosália, hoje padeira, entende, curiosamente.

“Salazar era o rosto da maldade que havia”, diz a filha a filosofar no âmbito dos seus trinta e cinco anos de educação oficial em democracia. Rosália, conheceu aquela maldade e a bondade de hoje e desabafa: “Vivia-se pior que hoje, eu sei. Mas era preciso outro 25 de Abril”.

Rosália, educada noutro tempo, viveu também a liberdade conquistada em 25 de Abril e que acabou com a maldade que havia. Diz agora que “votou sempre PS”. “Por pressão do marido”…

Ironia das ironias, Rosália! O seu marido é que sabia e por isso em vez de impedir de votar, como Salazar fazia, pressionava-a ao acto, num exercício de uma mais ampla liberdade. E por esse efeito de ampla liberdade, votava no rosto da actual bondade que é a figura em quem sempre votou: Mário Soares. Salazar nunca se lembrou disso...

Não é assim? Salazar só tinha criadas. Pagas pela D. Maria, com salário de miséria, mas depositado na Caixa. Soares tem empregadas domésticas, carros, motoristas, polícias à porta, uma Fundação, subvenções vitalícias e mordomias a eito. Muitas e pagas por todos nós. Percebe porque é que precisamos de outro 25 de Abril, não percebe? Claro que percebe.

Mas devia explicar tal coisa à sua filha que nasceu com a democracia. Pode ser que ela ainda entenda...

8 comentários:

Zephyrus disse...

Vivia-se pior porque quando o professor Salazar chegou ao poder já havia um atraso de décadas em relação à Europa. Poderemos andar ainda mais para trás no tempo, até ao reinado de D. João V. Então, o país tinha riqueza, mas a Metrópole estava pobre. E tal sucedia porque Lisboa, que concentrava a maior parte das elites, importava muito. E produzia-se pouco. Além disso, o país carecia de infra-estruturas, e a universidade de Coimbra não acompanhara a revolução científica e filosófica do século XVII. Depois de D. João V, houve o terramoto, as invasões, a Guerra Civil, a bancarrota parcial de 1892. Na segunda metade do século XIX havia o povo analfabeto e uma elite diletante. A Primeira República, por sua vez, ainda empobreceu mais o país.

Salazar chega ao poder num país:

- com três universidades cheias de diletantes e «baldas». Não diferia muito dos tempos que correm, basta consultar arquivos e ver as taxas de reprovação, as desistências e as faltas a exames.

- com uma taxa de analfabetismo vergonhosa.

- com uma elite avessa ao risco e ao investimento.

- sem qualquer relevo industrial e sem uma agricultura modernizada.

Salazar chega também ao poder num país com um povo infantilizado, como ele próprio salienta, onde abundavam comportamentos e atitudes que denotavam um predomínio da emoção sobre a razão. Numa entrevista no final dos anos 60, para jsutificar o atraso da agricultura em Portugal, Salazar culpa o povo, e dá o exemplo dos proprietários de pequenas propriedades, pouco produtivas, que se recusavam a vender por ser património da família. Salazar, por cima do povo e das elites, compreendia o atraso cultural dos portugueses como ninguém. Conhecia o inconsciente colectivo, a alma da nação, e por isso foi o que foi: um dos maiores estadistas de sempre da nossa História.

Karocha disse...

José já leu hoje no CM o artigo sobre o burlão das farmácias?
O Juiz Carlos Alexandre, estava à espera para o interrogar e atribuir as medidas de coação, e agora não pode fazer nada!

josé disse...

E acha que o indivíduo é mesmo burlão?

Se for, o que será o Dias Loureiro, por exemplo?

Karocha disse...

LoooLLL José, só você!

Karocha disse...

O Manel é um homem de negócios,vive entre Cascais e Cabo-Verde e, vai a Espanha por causa da filha José!
Não que saber de politica para nada,Manel dixit...

zazie disse...

Ainda é muito bonita, a padeira Rosália

legião 1143 disse...

essa do vivia-se pior tem muito que se lhe diga , estou sempre a encontrar pessoas idosas que dizem o contrario , claro que os vermelhos eriçados dirão o contrario mas esses defensores de um regime totalitário e dos piores em opressão ao povo não têm qualquer valor na sua moral .
muitas das coisas que por vezes se referem são de um tempo e não por causa de alguém , se é de tecnologia , conhecimento , conforto que falam então também daqui a 20 /30 anos vivemos melhor , se é de liberdade (não confundir com liberdade politica ) de ir passear com a família onde queremos e na hora que queremos , de segurança , do risco de ficar sem os nosso pertences , de termos um trabalho , impostos e mais impostos (IVA POR EXEMPLO) , ter tempo para estar com os filhos , eles mesmos poderem brincar com outras crianças , os idosos terem quem olhe por eles , um estado cumpridor , tantas coisas , hoje cada vez temos de trabalhar mais , isto os que podem trabalhar , passamos menos tempo em família e somos prisioneiros em casa desta sociedade insegura e deste estado que tudo come , agora visto assim onde se vivia melhor ? eu vivia pior em tecnologia e conforto mas conhecia a felicidade e tinha uma família comigo , coisa que hoje o meu filho tem centenas de brinquedos mas quantas vezes tem de brincar sozinho ou se vai à rua temos de vigiar ? e é tão pouco o tempo que infelizmente posso estar com ele , portanto quem vive melhor ? uma coisa é certa desde 74 animação não nos falta.

legião 1143 disse...

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/perigo-na-linha-de-sintra

um relato de dois jornalistas , mas vivemos ou não vivemos melhor ? realmente desde 74 animação não nos falta !

O Público activista e relapso