Angola e as suas elites dominantes nos negócios do Estado, com destaque para as empresas do petróleo e minérios, tem muito, muito dinheiro para gastar, investir e colocar. Um dos destinos desse dinheiro é, naturalmente, Portugal, através de compras e investimentos de vulto. Uma das figuras incontornáveis desses negócios é a própria filha do presidente angolano, Isabel dos Santos. Como se diz aqui, Isabel dos Santos tem 10% da Zon, e um dos muitos rumores que circulam é que pode ser a promotora de uma fusão entre aquela operadora e a Sonaecom, tantas vezes referida, mas nunca concretizada. Esta possibilidade é reforçada com o facto de Isabel dos Santos e Paulo Azevedo terem uma relação estreita, consubstanciada numa parceria para levar a marca Continente para Angola.
Perante isto, é de prever que o jornal Público, dentro de meses deixa de relatar notícias desagradáveis para a elite angolana, digamos assim. E o Correio da Manhã, se as coisas começarem a correr mal economicamente pode cuidar-se também. A táctica é sempre a mesma e já foi tentada pelos emigrado de Paris.
Não obstante, o dinheiro que aqui entra tem de estar "lavado", ou seja, tem de ser proveniente de fonte limpa, conhecida, legalmente autorizado a entrar e permanecer, tal como os cidadãos angolanos que por cá residem.
Há uns largos meses, no final de 2010, o Estado angolano apresentou uma queixa criminal por burla, uma fraude gigantesca de cerca de 100 milhões dee dólares que se evaporaram do Banco Nacional de Angola e vieram aqui parar...dinheiro sujo, portanto e cujas transferências integram a prática de eventual crime de branqueamento de capitais, para além do mais. Crime que se consuma aqui, em Portugal e incomoda agora o Estado angolano.
Nas buscas que o Departamento de Burlas da PJ realizou nos arredores de Lisboa, foram apreendidos a Álvaro Sobrinho um automóvel e uma moto, no valor de cerca de 200 mil euros. A investigação detectou também dez milhões de euros transferidos ilegalmente para contas de vários bancos portugueses.
O esquema fraudulento começou por ser investigado em Luanda em 2010 e no rasto de mais de 90 milhões de euros desviados do BNA, através do BES de Londres, chegou-se a várias contas em Portugal. Álvaro Sobrinho e os empresários portugueses que estão sob suspeita serão alguns dos beneficiários das transferências realizadas. O dinheiro era depois desviado para várias contas de empresas e sociedades offshore."
Este esquema de branqueamento de capitais, denunciado pelas próprias autoridades angolanas, foi posteriormente alterado com uma intervenção directa do próprio PGR de Angola que escreveu uma carta ao DCIAP na qual defendia o antes acusado, o tal Álvaro Sobrinho. Se calhar arrrependeram-se da queixa por nem nem conhecerem devidamente o crime de branqueamento de capitais com esta dimensão e contorno e as chatices que lhes poderia acarretar...
Tal carta, aliás, pode muito bem ter sido redigida por influência do próprio presidente de Angola, uma vez que o PGR de Angola não tem autonomia em relação ao mesmo, estando-lhe subordinado, como refere o Correio da Manhã de hoje. Angola copiou as nossas leis de organização judiciária mas a autonomia do MºPº não lhes faz nenhum jeito.
A investigação em Angola ramificou para cá e a PJ de Lisboa investigou e descobriu que Álvaro Sobrinho, presidente do BES de Angola, um banco com muito autonomia em relação ao de cá, do senhor Espírito Santo, tinha cabritos até dizer chega sem ser criador de cabras e por isso, foi incomodado com interrogatórios e medidas de coacção.
O MºPº do DCIAP e a PJ fizeram investigações e descobriram factos incómodos para o poder angolano. Descobriram que os factos eram graves e poderiam constituir crime. As autoridades judiciárias ( MºPº e JIC) promoveram e aplicaram medidas de coacção gravosas, houve recurso e a Relação de Lisboa acreditou nas histórias da carochinha que os arguidos contaram e relatou num acórdão essas histórias inócuas de transferências de dinheiro para pagar empréstimos e que acabaram em compras de apartamentos por atacado e carros de luxo.
Não obstante a decisão da Relação sobre as medidas de coacção, o processo não parou no DCIAP porque os elementos de prova recolhidos não desaparecem com histórias da carochinha e por isso os "angolanos", agora sem razões de queixa do tal Sobrinho, pela tal burla que afinal não existiu e pode permitir o arquivamento do processo por esse motivo, acharam que assim se resolvia tudo. Mas não resolveu porque o crime de branqueamento de capitais não depende desse tipo de voluntarismo muito volúvel e por isso o processo continua para bingo.
E é aqui que entra uma notícia de algumas semanas na primeira página do semanário Sol, em que se escrevia claramente que as autoridades judiciárias portuguesas andam a incomodar excessivamente os nossos amigos angolanos e sem razão porque afinal são todos bons rapazes, com uma rapariga a chefiar e o dinheiro que têm se não vier para aqui vai para outro lado. Acham que temos um preconceito contra eles e que afinal não deviam ser assim incomodados por causa do dinheiro que andam a pôr aqui. Mas...afinal quem é que tinha feito queixa antes?E julgam que por aqui o PGR depende do executivo? E o DCIAP é departamento do ministério?
O semanário Sol é um exemplo triste do que nos aconteceu com o dinheiro de Angola.
Duvido que os seus jornalistas, pessoas honradas e que deram cartas no jornalismo nacional gostem do que fazem com aquelas notícias. Penso mesmo que só têm uma saída: saírem e fazerem outro jornal sem o dinheiro angolano porque a liberdade de escrever vale muito mais do que o opróbrio por que estão a passar. O resultado de uma outra decisão judicial lamentável sobre o caso Rui Pedro Soares, deu nisto.
Os angolanos entretanto já ameaçam com "represálias" para com os nossos cidadãos em Angola. E esta acção intimidatória para com as nossas autoridades judiciárias, é grave e já devera ter merecido das nossas autoridades políticas uma acção firme. Quem é o ministro dos Negócios Estrangeiros? Paulo Portas, é? Não parece...ninguém ouviu nada do indivíduo que MEC afiança que "ainda há-de mandar nesta merda. "
Veremos no que isto dá, mas se der no que ameaçam, o Estado português só tem uma saída também se quiser preservar a dignidade do nosso povo, como dizem os comunistas: ser duro com essa gente que ainda agora experimenta o que pode ser uma democracia. Não conhecem outra linguagem e é essa que devem perceber.