No mesmo Expresso, o colunista Henrique Monteiro ( o qual quando lhe foge o pé para a chinela da Justiça é escorregadela certa), atira-se a Marcelo Rebelo de Sousa como gato a bofe sanguinolento.
Escreve que " A culpa não é só dos políticos. A culpa não é só de Sócrates. A culpa é também da elite que filtra o ar mediático. A culpa também é dos Marcelos desta terra. Os Marcelos Rebelos de Sousa têm sido os guardiães do satus quo que nos conduziu à bancarrota. Se Sócrates é culpado por acção, Marcelo Rebelo de Sousa é culpado por inação."
E segue por ali abaixo, no bota-abaixo personalizado que culmina no entendimento de que Marcelo é o Rui Santos da política e tal como este, entende a política como uma "jornada" semanal em que se discute a política tal como os jogos de futebol. E pior: "só existem erros tácticos, e não erros de substância". Por isso acha que Marcelo não acredita em coisa alguma que se tenha ouvido, porque "nem defende valores ou causas políticas".
Enfim, pobre do comentador Marcelo alcandorado a bête-noir do regime só porque comenta em tom diletante quase tudo o que lhe aparece semanalmente.
Marcelo é uma figura mediática porque os media assim o fizeram e quiseram. E é apenas figura mediática porque a sua audiência é a da tv, uma mole indefinida de gente que tem pachorra para ouvir um "Professor" que só por o ser adquire estatuto de mestre de tudo. Até de culinária se preciso for. Marcelo é um fenómeno de excepção no símbolo de uma tv onde a parolice e a ignorância frequentemente fazem lei comum. Marcelo só é a figura mediática que é por causa disso, mas não é culpado disso, porque nem é parolo nem ignorante.
Marcelo não tem culpa de ter a figura mediática que tem, com grande poder de influência em certas camadas de opinião pública. Tem-na malgré lui. Tem-na porque os poderes mediáticos assim o quiseram. Convidaram-no para comentar, o mesmo arranjou um esquema meio original de dar "notas" aos assuntos e personagens da semana e ficou criado um estilo e uma forma. Mérito dele, claro. Demérito de quem lhe deu importância demasiada no panorama mediático.
Porém, não é verdade que seja desprovido de valores e referências políticas. Valores tem-nos também e fogem ao jacobinismo ambiente o que é uma benção. Só por isso merece a minha simpatia. Mas não foge suficientemente e pactua com essa pecha velha e relha que nos tolhe o desenvolvimento. Pactuar, parece, é o traço fundamental da personalidade pública de Marcelo e eventualmente da privada.
Marcelo parece-me genuinamente sincero numa vacuidade de crenças profundas. Um drama, parece-me também. Pessoal e intransmissível. Marcelo não se desvela em compromissos de fundo e por isso falha o prazer de sentir o absoluto dessa entrega.
Marcelo é inteligente para poder ser professor de Direito num nível elevado para um português. Mas não é o tipo de investigador de tendências ou inovador de teorias. Não tem manuais marcantes no Direito. Mas deve ser um excelente professor de ideias fundamentais. Deve ser o mestre-escola típico de uma faculdade de Direito que se preze. E parece-me ser esse o seu papel fundamental. Nem toda a gente pode dizer o mesmo da sua vida: mostrar um cartão de apresentação meritório do que nela fez.
O Marcelo mediático, antes disso, foi diletante na política. Tentou na sua juventude tardia os cargos que lhe permitiriam avançar na exposição prática da política. Não conseguiu nada de relevante por motivos que espantam: Marcelo é simplesmente uma das pessoas que melhor conhece o meio político português, porque esteve metido no ambiente político antes de 25 de Abril, privou com figuras gradas do marcelismo e tem família que governou no marcelismo e tinha amizades com o marcelismo, mesmo pessoais.
Marcelo Rebelo de Sousa não se comprometeu demasiado com o marcelismo. Nessa altura, já estava no Expresso e a escrever coisas anónimas que toda a gente do meio sabia de quem eram. Gente. Com comentários verrinosos nas entrelinhas e denotadores de personalidade sem futuro sólido.
Passou o PREC nesse ambiente deletério de luta de bastidores, com os valores que herdou mas sem exposição ao perigo. Se o PREC vingasse, Marcelo ficaria na mesma. Não seria preso ou destituído e faria do sítio onde estivesse um lugar de pactos.
Depois disso participou na aventura do jornalismo alternativo. Antes do Independente esteve no Semanário, sempre ao lado dos valores anti-jacobinos mas sem os hostilizar. Escrevia meias-desfeitas como quem comia esparguete, sempre com a comida a fugir do prato.
O PSD foi sempre o seio de Marcelo mas não o redil. Por isso nunca esteve confinado a cercas. Talvez por isso se veja confrontado, como agora do artigo do Expresso, com apreciações de perfil que falham o retrato .
Não conheço pessoalmente Marcelo. Mas julgo conhecer-me bem a mim...
Escreve que " A culpa não é só dos políticos. A culpa não é só de Sócrates. A culpa é também da elite que filtra o ar mediático. A culpa também é dos Marcelos desta terra. Os Marcelos Rebelos de Sousa têm sido os guardiães do satus quo que nos conduziu à bancarrota. Se Sócrates é culpado por acção, Marcelo Rebelo de Sousa é culpado por inação."
E segue por ali abaixo, no bota-abaixo personalizado que culmina no entendimento de que Marcelo é o Rui Santos da política e tal como este, entende a política como uma "jornada" semanal em que se discute a política tal como os jogos de futebol. E pior: "só existem erros tácticos, e não erros de substância". Por isso acha que Marcelo não acredita em coisa alguma que se tenha ouvido, porque "nem defende valores ou causas políticas".
Enfim, pobre do comentador Marcelo alcandorado a bête-noir do regime só porque comenta em tom diletante quase tudo o que lhe aparece semanalmente.
Marcelo é uma figura mediática porque os media assim o fizeram e quiseram. E é apenas figura mediática porque a sua audiência é a da tv, uma mole indefinida de gente que tem pachorra para ouvir um "Professor" que só por o ser adquire estatuto de mestre de tudo. Até de culinária se preciso for. Marcelo é um fenómeno de excepção no símbolo de uma tv onde a parolice e a ignorância frequentemente fazem lei comum. Marcelo só é a figura mediática que é por causa disso, mas não é culpado disso, porque nem é parolo nem ignorante.
Marcelo não tem culpa de ter a figura mediática que tem, com grande poder de influência em certas camadas de opinião pública. Tem-na malgré lui. Tem-na porque os poderes mediáticos assim o quiseram. Convidaram-no para comentar, o mesmo arranjou um esquema meio original de dar "notas" aos assuntos e personagens da semana e ficou criado um estilo e uma forma. Mérito dele, claro. Demérito de quem lhe deu importância demasiada no panorama mediático.
Porém, não é verdade que seja desprovido de valores e referências políticas. Valores tem-nos também e fogem ao jacobinismo ambiente o que é uma benção. Só por isso merece a minha simpatia. Mas não foge suficientemente e pactua com essa pecha velha e relha que nos tolhe o desenvolvimento. Pactuar, parece, é o traço fundamental da personalidade pública de Marcelo e eventualmente da privada.
Marcelo parece-me genuinamente sincero numa vacuidade de crenças profundas. Um drama, parece-me também. Pessoal e intransmissível. Marcelo não se desvela em compromissos de fundo e por isso falha o prazer de sentir o absoluto dessa entrega.
Marcelo é inteligente para poder ser professor de Direito num nível elevado para um português. Mas não é o tipo de investigador de tendências ou inovador de teorias. Não tem manuais marcantes no Direito. Mas deve ser um excelente professor de ideias fundamentais. Deve ser o mestre-escola típico de uma faculdade de Direito que se preze. E parece-me ser esse o seu papel fundamental. Nem toda a gente pode dizer o mesmo da sua vida: mostrar um cartão de apresentação meritório do que nela fez.
O Marcelo mediático, antes disso, foi diletante na política. Tentou na sua juventude tardia os cargos que lhe permitiriam avançar na exposição prática da política. Não conseguiu nada de relevante por motivos que espantam: Marcelo é simplesmente uma das pessoas que melhor conhece o meio político português, porque esteve metido no ambiente político antes de 25 de Abril, privou com figuras gradas do marcelismo e tem família que governou no marcelismo e tinha amizades com o marcelismo, mesmo pessoais.
Marcelo Rebelo de Sousa não se comprometeu demasiado com o marcelismo. Nessa altura, já estava no Expresso e a escrever coisas anónimas que toda a gente do meio sabia de quem eram. Gente. Com comentários verrinosos nas entrelinhas e denotadores de personalidade sem futuro sólido.
Passou o PREC nesse ambiente deletério de luta de bastidores, com os valores que herdou mas sem exposição ao perigo. Se o PREC vingasse, Marcelo ficaria na mesma. Não seria preso ou destituído e faria do sítio onde estivesse um lugar de pactos.
Depois disso participou na aventura do jornalismo alternativo. Antes do Independente esteve no Semanário, sempre ao lado dos valores anti-jacobinos mas sem os hostilizar. Escrevia meias-desfeitas como quem comia esparguete, sempre com a comida a fugir do prato.
O PSD foi sempre o seio de Marcelo mas não o redil. Por isso nunca esteve confinado a cercas. Talvez por isso se veja confrontado, como agora do artigo do Expresso, com apreciações de perfil que falham o retrato .
Não conheço pessoalmente Marcelo. Mas julgo conhecer-me bem a mim...