quarta-feira, maio 18, 2011

Esta crónica não é sobre Ferreira Fernandes

Hoje comprei o DN em vez do Público e li esta crónica de Ferreira Fernandes, na última página :


Vou escrever sobre jornalismo, assunto que me interessa e, presumo, também ao leitor, já que está neste momento a ler-me num jornal. Vou transcrever um parágrafo que não é meu: "Um hóspede do hotel, Mortem Meier, de 36 anos, um director de vendas norueguês, disse que o condutor do carro negro que transportou o Sr. Strauss-Kahn ao Aeroporto Kennedy foi também o seu taxista nesse sábado, à noite. 'Ele disse que Strauss-Kahn estava cheio de pressa', contou o Sr. Meier. 'Quis partir o mais depressa possível. Estava transtornado e preocupado, disse o taxista'." Fim de citação. Isto foi publicado no The New York Times (NYT). O NYT é o melhor jornal do mundo, para mim uma lição constante sobre como contar, um prazer quando me calha a sorte de o ter ao pequeno-almoço, um sentimento duplo de impotência por não o ter como local de trabalho e como jornal do meu país. E, no entanto, o NYT escreveu aquilo. Trata como testemunha um indivíduo (o norueguês) que tem para contar o que outro indivíduo (um taxista) lhe contou de passagem. Se nos jornais cabem estas "informações" em segunda mão, o NYT que fale comigo que eu tenho várias interpretações, entre bandeiradas, sobre grandes mistérios americanos: da morte de John Kennedy à verdadeira nacionalidade de Obama. Já agora, um facto: nenhum taxista levou Strauss-Kahn do hotel ao aeroporto. Ele saiu do hotel para ir almoçar com a filha a um restaurante.

Portanto, vou escrever sobre cronistas, assunto que me interessa e presumo interessará quem me lê. VOu transcrever um parágrado que não é meu:

"o NYT escreveu aquilo. Trata como testemunha um indivíduo (o norueguês) que tem para contar o que outro indivíduo (um taxista) lhe contou de passagem. Se nos jornais cabem estas "informações" em segunda mão, o NYT que fale comigo" (...) "Já agora, um facto: nenhum taxista levou Strauss-Kahn do hotel ao aeroporto. Ele saiu do hotel para ir almoçar com a filha a um restaurante. "



O NYT escreveu a notícia a que se refere o cronista FF, citando fontes que contaram ao jornal o que outros porventura lhe contaram. O jornal escreveu toda a notícia assim e não apenas o episódio do taxista.

Então porque é que FF dá especial relevo ao facto contado em segunda ou terceira mão, quanto é certo e sabido que é assim que funciona o jornalismo?
A versão de um taxista é menos credível que a de um polícia do NYPD?
Já agora outro facto: como sabe FF que DSK foi almoçar com a filha depois de sair do hotel? Foi algum taxista que lhe contou em primeira mão?

Portanto, se FF escreve crónicas assim, "fale comigo" antes que eu tenho várias histórias sobre versões enviesadas de factos em crónicas escritas, por preconceitos ideológico-político-sociais...


PS. E já me esquecia de dizer outra coisa: o jornal i é mais bem feito que o Diário de Notícias. In totum.

Questuber! Mais um escândalo!