terça-feira, maio 10, 2011

Uma história de proveito e exemplo

Na revista Time da semana passada que tem um artigo extenso sobre Bob Mueller, o director do FBI, de saída depois de reestruturar essa polícia federal americana, há um outro artigo de fundo sobre "as políticas da dívida", em que alerta para os perigos da dívida pública americana, actualmente detida em grande parte pela China. Em certa altura escreve-se isto:




"Há um século e meio atrás, o Egipto era a maravilha do Novo Mundo. A guerra civil americana destruíra as exportações de algodão do Sul americano, provocando um aumento nos preços, de oito vezes, o que enriqueceu os produtores egípcios.

O manda chuva do país, o Kediv (uma espécie de vice-rei então assim designado pelos turcos) Ismail Pasha, alargou-se de tal modo na extravagância das vias férreas que o Egipto então compassado com o Sudão moderno ou com partes da Líbia e Eritreia, alardeava mais milhas de linhas por habitante do que qualquer outro país.


Em 1869, o Egipto celebrava a abertura do canal do Suez, uma maravilha de engenharia que se fatiava através do ombro direito da África.


Notáveis vindos de tão longe como Londres ou S. Petersburgo compareceram em caterva para testemunharem a procissão cerimoniosa dos barcos através do canal conduzidos pelo yacht imperial da francesa Imperatriz Eugénia. Os festejos prolongaram-se por três semanas, numa espécie de confraternização festiva entre Davos e a bacanália do carnaval do Rio.

Mas antes de a Imperatriz francesa acabar de atravessar o canal, a rendição dos Confederados em Appomattox rebentava com a bolha egípcia. Com o fim da Guerra Civil, o preço do algodão começou a baixar e a ostentação do Kédiv só podia continuar a sustentar-se através de empréstimos promíscuos.

De 1867 a 1875, a dívida soberana do Egipto subiu de 3 para 100 milhões de libras.; entretanto, o preço do algodão continuava a cair para níveis anteriores à Guerra Civil americana. A dívida tornou-se incobrável.


O que se seguiu foi uma lição sobre quão rápido a dívida pode comprometer a soberania de uma nação. Em 1875 um Kédiv aflito por dinheiro vendeu a participação do Egipto na empresa do canal do Suez, aos britânicos que adquiriram a jóia de uma coroa financeira e geopolítica pelo preço angustiante de 4 milhões de libras. No ano seguinte o Egipto deu em bancarrota e em 1878 foi forçado a aceitar um governo cuja função principal era a de manter os credores satisfeitos- o próprio ministro das Finanças era britânico. Em 1882 uma intervenção militar britânica selou o destino do Egipto como colónia em tudo menos no nome. Na linguagem diplomática imperial tornou-se um "protectorado velado".

Assim acaba a primeira parte da lição ensinada pelo Suez. Para os americanos nervosos de hoje em dia, a segunda parte é mais subtil e ainda mais arrepiante. Em meados do séc.Vinte, a Inglaterra, superpotência que se aproveitou das vantagens da crise da dívida egípcia, sofria os mesmos efeitos, trazidos pelos insustentáveis empréstimos para os encargos de duas guerras mundiais. Os seus líderes ainda acreditavam que abarcavam o mundo. Mas o seu poder era ilusório. Depois da II Guerra mundial, a Inglaterra estava profundamente devedora para com os EUA, uma vantagem que o presidente Eisenhower utilizou para extrair várias concessões políticas, incluindo a devolução do canal de Suez ao Egipto. ( Pretendia manter o novo líder egípcio, coronel Gama Abdel Nasser feliz e impedi-lo de se juntar ao lado soviético). O dólar substituiu a libra como moeda de reserva mundial. E os EUA substituiram a Inglaterra como potência global emergente.


A humilhação do Suez marcou o fim das pretensões imperiais inglesas. Como escreveu o historiador Niall Ferguson, "Foi no Banco da Inglaterra que se perdeu efectivamente o Império". Harold MacMillan, então ministro das Finanças confessou que o Suez tinha sido o último suspiro de uma potência em declínio, acrescentando que "talvez em duzentos anos os EUA sintam o que sentimos".


A revista interroga-se depois sobre se os tais duzentos anos não chegaram antes...agora mesmo.

Esta história de proveito e exemplo poderia ser contada por um de nós, portugueses, que aprendemos História e sabemos o significado da Honra nacional, do brio pela Pátria e da Dignidade de uma Nação.

Qualquer um de nós é uma maneira de dizer. Estou convencido que há muito poucos de nós que sintam tal coisa. E não é um Inenarrável de um primeiro-ministro como o que temos que de História deve perceber as dos livrinhos aos quadradinhos, se tanto, quem nos vai devolver a honra perdida.

Questuber! Mais um escândalo!